quarta-feira, 26 de setembro de 2007
James Joyce – “Ulisses”
“Ulisses” despertou-me as mais díspares emoções, de tal forma que me ponho a pensar se a verdadeira Odisseia não será a viagem, por vezes amarga, por vezes fantástica, que faz cada um dos seus leitores. É, de facto, uma fera, pouco amigável, muitíssimo exigente; obriga-nos a pensar e, também, a tentar descodificar os violentos sentimentos que nos suscita. Debati-me com a frustração, a angústia, a vontade de o atirar pelo ar; mas também vivi o deslumbramento, a descoberta, o prazer do desafio.
É incrível como nos pode agarrar a história, contada ao longo de mais de 800 páginas, de um dia normal de um homem normal. Acabamos por sentir que, por mais banal que o seja, um facto pode assumir uma enorme relevância e interesse, desde que descrito com a mestria de um Joyce. Como se este livro nos estivesse a dizer: nós somos o Ulisses; e a verdadeira Odisseia é a viagem do Homem comum, com os seus próprios ciclopes e sereias; aquele trilho complexo, apaixonante e sofrido que é o nosso percurso, a lenta construção da nossa memória, o sentido que soubemos conferir à vida.
A leitura de Ulisses ensinou-me a estar mais atenta ao meu próprio fluxo da consciência, naqueles momentos em que caminho na rua, sem ouvir quem chama por mim, e faço a expressão fechada de quem está alheada nos seus pensamentos e só por sorte não bate com a cabeça num poste!
Joyce fez de mim o que quis: revolucionou, encantou, irritou, deslumbrou, brincou, desafiou, excitou, chocou, maravilhou, fracturou, invadiu, confundiu, surpreendeu; atenazou-me as meninges, tirou-me do sério, ofereceu-me um puzzle por montar, encaminhou-me para o labirinto, obrigou-me a abrir quinhentas vezes aquela enciclopédia a que ninguém dava uso; contribuiu para que eu estivesse mais atenta a mim própria, ajudou-me a valorizar o sabor do tempo e manter-me-á ocupada para sempre.
O que senti com a leitura de Ulisses? Palavra que ainda estou em processo de assimilação… Fica-me, sobretudo, o orgulho de ter vivido tamanho entusiasmo em sintonia, convosco, no Leitura Partilhada. E hei-de sorrir sempre que olhar para aquela presença verde e azul que reina na parte de cima da estante da esquerda, no meu quarto.
CREDITO DO COMENTÁRIO : AZUKI
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